sexta-feira, 5 de setembro de 2014

SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: Inflação: Entenda como a Globo engana a população.

SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: Inflação: Entenda como a Globo engana a população.

SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: Inflação: Entenda como a Globo engana a população.

SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: Inflação: Entenda como a Globo engana a população.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um futuro bacanal


Hoje uma adolescente de vinte e poucos anos me disse que eu era uma das poucas pessoas que ela conhecia que falava de um futuro melhor. Eu responderia que sim, se ela não houvesse dito isto no fim de nossa longa conversa anterior, e complementaria narrando essa pequena moral das histórias.
Você já deve ter ouvido falar desse filme: “Mais Estranho que a Ficção”. É a história de Harold, um personagem que começa a ouvir a escritora narrando sua vida. Ele acha estranho ouvir essa voz que lhe acompanha no cotidiano e que certas vezes até antecipa-lhe os acontecimentos. E começa a contar isso para as pessoas que o rodeiam.
Esse estranhamento prossegue até que ele reconheça essa voz em um programa de TV, é ela, a entrevistada. Sua autora. Que maravilha!!! Ops, nem tanto. Ela gosta de matar seus personagens. Agora Harold tem de lutar por sua vida indo em busca das responsabilidades que os autores tem sobre a narrativa.
Isso decorre, meu leitor, do fato de que se você identifica com uma parte do meu texto, você está com isso o tornando real. Isso mesmo, na sua mente ele está tomando vida!
A vida dos meus pensamentos. A forma como eles irão influenciar quem quer que seja. Esse é o pesadelo das palavras. “A palavra plasma”. Ela molda a forma como interpretamos a vida e isso, de certa forma, é que dá modela a realidade.
Os escritores sabem disso. Eles sabem da responsabilidade que possuem sobre os seus personagens e isso lhes aflige. Mas não ao jornalista que que se perde na promiscuidade do cotidiano ao tentar conter parte da vida das pessoas no espaço curto de sua narrativa.
É por isso que a poesia será sempre mais refinada que a literatura. E essa última, por sua vez, ainda mais delicada que o jornalismo. Os poetas são os profetas, os escritores os oráculos e os jornalistas são ditadorezinhos donos da “verdade”.
Mas eu agora sou blogueiro e nesse blog eu vou procurar propor narrativas que apontem para realizações melhores. Eu não acredito no capitalismo sustentável, nem sou ingênuo a ponto de dispensar a política. “O barato é louco. O bagulho é sério. O processo é lento.” Mas eu não sou espiritualista e quero experimentar boa parte desse mundo melhor, então: mãos à obra por um Futuro Bacanal.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O conceito de Brahma e a realidade


O conceito de Brahma da mitologia hindu e de um mundo ausente de ilusões, de sombras e de vultos que ofuscam a visão leva-nos à necessidade de Maia com seus milhares de véus criando o encantamento da realidade. O real surge como um véu, uma máscara, um discurso um molde com o qual experimentamos cobrir Brahma e produzimos a sensação da estabilidade das coisas. Maia nos envolve e cria a ilusão das cadeias atômicas, da estabilidade das relações químicas e da integridade do discurso econômico. Seus véus entortam o espaço para reduzir as distâncias, permitem que seguremos um copo e que ele assim permaneça, mas também faz com que vejamos milhares de pessoas morrendo de fome todos os dias em uma proporção maior do que a que deu origem às primeira e segunda grandes guerras territoriais da Europa, a que chamaram de mundial. Maia nos cobre com um discurso de conformismo, introspecção e isolamento ante a hegemonia de um eu “privado” crucificado todos os dias ante as intenções que não se concretizam.
O capitalismo e o conjunto de famílias que há mais de um milênio governam o mundo civilizado europeu põem sobre nós esse véu flexível (o absolutismo pode levar à guilhotina) e para cada clinamem um novo véu conforma Brahma aos seus interesses. Mas os corpos não se comportam enquanto perdem a compostura. Ao criar um véu que dê conta dos movimentos que os corpos fazem rumo à fuga para a uma percepção ainda não encoberta, Maia mecaniza o real em uma colcha de retalhos que nunca se rompe.
O mundo de corpos sensíveis que proclamam um novo real a cada instante
Uma teoria que dissesse dos desafios da comunicação ante o mundo deveria retomar o que falava o filósofo e prêmio Nobel de literatura Henri Bergson ao afirmar que o erro do ocidente teve origem na adoção da escola socrática.
- Não se trata de dizer se a realidade é material ou discursiva. O que importa é o movimento presente entre essas relações e a forma como o véu é posto ante nossos olhos.
A estática ilusória de que as coisas são elas mesmas e a fantasia de que os discursos se movem com elas criam a determinação do real. Ocorre que no início do século XXI da cultura civilizatória cristã européia encontrou um moto-contínuo pelo qual se apresenta como molde em que o bem-estar deu lugar à inserção no mercado. De um modo geral, com o fracasso do modelo comunista e com o coquetel que os estruturalistas fizeram, oriundos de um pensamento positivista, a cultura ocidental se estabeleceu frente à idéia de um modo evolutivo em que o capitalismo, como uma espécie dentre as espécies descritas por Darwin, evoluiria para o comunismo, tal qual Marx descreve no seu “O Capital”, afinal pela lógica dialética kantiana, todas as coisas trazem dentro de si o gérmen de sua destruição, e uma síntese, uma terceira coisa, um estado evoluído.
A civilização européia que se apresenta como modelo único não trouxe em-si o gérmen de sua destruição, mas a destruição de milhares de milhões de pessoas, culturas, espécies e ambientes no entorno de sua homogeneização. Enquanto os livros de história falam de um holocausto judeu, sérvio, bósnio, albanês... põem de lado o que representou o período de expansão colonial e o verdadeiro holocausto planetário que foi a expansão de seus valores até a homogeneização planetária da propriedade tal qual estabelecem seus cartórios.
Um olhar frio sobre o a Europa do século XV revela um continente devastado.
A colonização é fruto da necessidade de matéria-prima (madeira) para dar curso ao sistema produtivo que estabeleciam à época. Com recursos insuficientes para suas ambições comerciais, a Europa se lançou ao mar com sua máquina civilizatória. Estabeleceram-se sobre vários pontos do planeta e deram início ao processo de destruição global. A princípio impuseram-se pela força, mas ela não se revelou eficiente. Ocorre que o número de colonizadores não era tanto e a necessidade de recursos de um continente já devastado era grande e para que auferissem os recursos a fim de sustentar o continente uma outra estratégia foi traçada: a da elite bastarda da colônia.
Nos primeiros anos de colonização as índias enterravam as crianças bastardas ao nascer. Os nativos sabiam do perigo que eles representavam. Então os europeus mandaram para as colônias a igreja e com ela a mansificação dos povos. Enquanto a igreja prometia um retorno do Éden, absolvia as más ações em função das boas intenções, criaram uma classe de nativos que permitiram a vida os bastardos, e com os bastardos construíram uma elite local que sonha na rearianização genealógica e no retorno triunfal ao paraíso, idealizado como a metrópole.
A elite bastarda correspondeu aos interesses do colonizador, pois enquanto sonhava em si tornar europeu, renegou a cultura materna e voltou-se ao pai colonizador em busca do perdão escravizando e devastando o seu entorno, produzindo recursos para a matriz e almejando a sua aprovação enquanto membro de uma raça pura ou igual de uma cultura que prometia o paraíso do ócio como resultado da exaustão pelo trabalho. Em nome de sua cultura civilizatória, de seu deus único de culpa e redenção os bastardos sacrificaram quase a totalidade da população nativa americana, valeram-se da diversidade dos povos e culturas africanos e impuseram um regime de extração que resultou em discurso econômico que afirma nos dias de atuais de que exportar é o que importa. Mesmo quando o seu vizinho morre de fome, o moderno bastardo não enxerga a crise do modelo europeu. Ele constrói muros, sobrepõem-nos com grades de espetos e cercas elétricas, particularizam a segurança e vêem o mundo por circuitos fechados de TV e por canais midiáticos que reforçam a hegemonia da estabilidade que esse discurso nos traz à do grupo bastardos do qual seu proprietário faz parte e defende.
O discurso capitalista vale-se no início do século XXI da pluralidade dos discursos e dá esquizofrenia de sua hegemonia. Impondo-se frente às massas e exigindo de seus opositores formulações tais quais apenas uma construção estrutural-dialética de oposições e sínteses definidas tratam de sua observação de forma monádica e deixam obscurecer os regimes que não se sustentam, e agregam para si o poder de autenticação da marca, cobradores do valor do pedágio que pela propriedade de uma tese original, consideram-se únicos para atestar a antítese e a nova síntese.
O bastardo não vê que o pensamento dialético é uma fábula. Que a evolução e o progresso prometido pelo positivismo, uma ilusão. Que a expansão do mercado mascara a destruição do planeta. Que o acúmulo de grandes fortunas é fonte da expropriação e do acúmulo do trabalho, em detrimento do bem-estar e a sobrevivência de milhões que morrem diariamente.
A crise que se abateu sobre a intelectualidade e que permite a homogeneização desse discurso desconexo reside na persistência desse espírito kantiano dialético. No lugar da superação, o pensador espera a oposição e a nova síntese. Não é bem assim. A lógica paraconsistente não nos permite formular antíteses porque nega essa negação. Uma coisa não tem oposições e uma não coisa deve ser vista como outra coisa. As proposições não necessitam de uma estrutura para alcançarem o sentido. Um exemplo claro, é o estabelecimento de relações entre o modelo produtivo-cultural e de consumo e de seus aspectos sociais e ambientais. A civilização européia global aderiu ao discurso ecológico das alternativas remediadoras de seu impacto destrutivo.
Reciclável, auto-sustentável, politicamente correto, socialmente responsável. A civilização européia criou esses véus sob os quais esconde o impacto de sua hegemonia.
-É preciso reafirmar que essa máscara não uma novidade, é mesma que ilude o bastardo.
Os europeus diziam trazer a civilização, por fim dos ritos pagãos, aos sacrifícios e, para isso, impuseram um modelo que resultaria no bem estar do coletivo e no paraíso do ócio como recompensa final, mas para isso seria preciso a adesão de todos e a entrega obstinada ao trabalho e à devastação do planeta, tal qual praticaram em seu continente. Enquanto exterminavam os nativos americanos em sua busca desenfreada por recursos, os europeus construíam para si a infra-estrutura que lhes ascendeu à condição de paraíso para os bastardos almejam a rearianização e o expurgo do pecado original pela negação da vizinhança e dos genes da mãe. A Europa civilizatória expropriou a produção milhares de milhões de pessoas durante cinco séculos enquanto construiu seu modelo de bem-estar. Mas eles estão perdoados, pois tem em sua defesa a redenção que traz fé cristã. Por ela, no fim do dia confessamos a incapacidade de seguir os valores que essa fé nos impõe e por isso esperamos ansiosos pela instauração global do status que os europeus alcançaram.
- O bastardo não vê que é a cultura que ele tem por modelo que põem em risco a vida no planeta, que cria a instabilidade do ambiente, que levará à extinção os ursos polares dentro de 50 anos.
- O bastardo aceita comodamente a inevitabilidade de milhares de mortes diariamente e quem sabe, o aumento dessas mortes diárias para centenas de milhares para a manutenção da hegemonia do modelo de produção capitalista.
Obsolescência programada, amortização de investimentos, embalagens descartáveis, sabores homogeneizados aos poucos todos estamos sujeitos ao mercado. Um mercado maleável, atento aos clinamens, porque enquanto apresenta-se por um modelo estrutural, o capitalismo age da maneira esquiza, produz através de monadas e evita qualquer leitura conjuntural, como a de enxergar a impossibilidade do paraíso prometido tendo em vista o constante aumento da população carcerária, dos famintos e dos doentes e da quase eliminação da securidade social conquistada por milhares de mortes nos séculos XIX e XX. Essa mascará do módulo esquizo é visível, na impossibilidade das pessoas de associarem a isso o constante aumento das fortunas pessoais e corporativas e a redução do bem-estar global.
O pensamento moderno parece que trava aqui. Na impossibilidade de superar o fracasso da fórmula marxista.
- O marxismo é uma interpretação futurista das proposições de Ricardo sobre a geração do capital. Marx propõe uma sociedade em que o trabalhador aufira o resultado total do valor do trabalho. Marx mantém valor e trabalho como premissas e os projeta a um estado ideal.
O comunismo travou por manter os personagens na mesma representação.
Não se engane pensando que as incontáveis mortes em combate para difusão de princípios de direito a um bem-estar comum não foram vãs. O que não teve valor foi a morte programada que os sistemas influenciados pelo marxismo impuseram aos seus governados. Garantiu-nos direitos e uma melhor distribuição do bem-estar, mas nós abrimos mão delas em busca da promessa do retorno ao Éden, rearianização global. Trabalho para todos e o estado de consumidor como ideal.
Os estados modernos foram forçados pela de globalização a trocar os conceitos de cidadãos, pelos de consumidores potenciais. A integração pelo consumo e a obediência ao mercado e ao humor das grandes fortunas, essa é a ordem do dia, todos devemos submissão. Evitamos dizer que a mídia cria essa fantasia chamada real. É o véu de Maia que encobre o sistema de amortização contábil, de apresentação do lucro aos acionistas e de cálculo do número de mortos dada impossibilidade de consumo. Sejam medicamentos, habitações decentes ou alimentos tudo agora é mercado, estamos todos consumidores.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O regime das economias na psique - Depressão e mania


*Obs.: Eu tomo neste texto uma forte referência do Post anterior 
Eu sou um deleuziano e no fundo eu acredito que nossos estados psíquicos se ajustem como uma questão econômica. Assim ouso chamar a depressão e a mania e seus estados transitivos de questões de regime de líbido ou política de humores.
Minha primeira tarefa aqui é explicar como a economia se produz no sistema psíquico. Então vamos lá. Tome os humores libinais como uma política de investimento que nosso corpo pode exercer na transformação do estado das coisas no mundo.
ESPERE!
Como assim transformação no estado das coisas. Então retomemos o texto anterior: lembra quando falei que para quem é capaz de produzir um bolo, os ingredientes representam o próprio bolo se o reconhecimento existe. Quero dizer: se conheço a receita. Sei executar e tenho os ingredientes, então o que falta é a disposição para a agir e a ação.
Mas o que nos move? O que nos tira do sofá numa tarde chuvosa e põe nesse estado de disposição?
A resposta para isso chama-se líbido. Heidegger, chama isso de “modo da disposição do ser”, o estar pronto e o agir. Mas cabe aqui uma ressalva, o corpo humano sempre está disposto a ação. Uma rápida visada em um livro de biologia nos mostra que sistema muscular está sempre armado, pronto para praticar ações. Então o estado líbinoso é pode ser sintetizado como o estado da disposição do ser para transformar o ambiente a seu redor.
Sim, nós operamos com essa disposição o tempo inteiro e até aprendemos a crer que sabemos como lidar com ela. É aqui que surge a nossa crença no estado da disposição e daí a chave para os estados depressivos ou maníacos.
Assim, ao nos posicionarmos no mundo, agimos na crença de que podemos executar essa ou aquela transformação nos ingredientes e tal ou qual intensidade. Quando nossas crenças suplantam a capacidade de execução chamamos de mania e quando elas são tão ínfimas que nem nos dispomos chamamos depressão.
Vou explicar melhor!
Quando vejo em minha frente diversos ingredientes e acreditamos que podemos produzir um grande número de bolos (como é o caso do texto anterior). Caso eu não consigamos produzi-los na quantidade de nossa disposição, estamos num estado maníaco. É algo como acreditar que seremos capazes de nos levantar e mudar o mundo inteiro em um só dia, até que a exaustão nos vença. Isso é mania.
A mania é numa relação com o sistema econômico um estado de crescimento inflacionário e especulativo. Crescimento porque o estado do ser é voltado para fora e é investidor. Inflacionário porque aumenta nossa o custo dos objetos à medida em que especula com sua própria capacidade de produção ou com os resultados de estoque em superprodução, onde não teríamos onde dispor tantos bolos (mas isso é uma questão de pulsões e será alvo de outro texto).
O revés disso é a depressão. Imagine o estado de um ser que não se prontifique a ação. Um estado recessivo em que os próprios ingredientes perdessem valor pela falta de interesse nos bolos. Isso faz da depressão um estado recessivo, deflacionário e depreciativo, já que o deprimido rejeita os ingredientes e continuamente reclama da quantidade de ingredientes que se lhe apresentam a todo instante.
Há na sociedade a crença de que assim como na economia (e em economia também isso é apenas uma crença), de que seja possível uma visada de equilíbrio entre esses estados. Uma crença num “modo dissente” que nos apresentasse uma disposição equilibrada entre a crença na disposição e o modo da disposição durante a ação.
Ai, ai, ai! O estar agindo! Há milhares de métodos que visam determinar pontos de equilíbrio nesse estado. Há uma infinidade de fórmulas econômicas que visam determinar o quanto de crença devemos aplicar a cada elemento em nossas vidas e numa proporção ainda maior em nosso grupo social, cidade, estado e país.
Acreditamos que podemos ser felizes com esse ou aquele ingredientes, nessa ou naquela proporção quais preços. Acreditamos em investimentos a fundo perdido, recuperáveis sobre outro estado corporal. Acreditamos na moda, nos esportes, na educação e nesse conjunto de coisas que chamamos de mundo e sobre eles traçamos planos de investimento.
Assim dias maníacos sucedem-se de dias depressivos de modo que nos encontramos em uma sociedade onde somos obrigados a crer na condição de equilíbrio. Ocorre no entanto que volta e meia vemos o surgimento de novas males, com novos nomes revelando a dura tarefa de caminharmos pelo que chamamos de REALIDADE.
Maníacos, depressivos, esquizofrênicos, psicóticos, sociopatas, psicopatas e tantos outros males através de stress, pânico e fúria. Há inúmeras possibilidades de sairmos da linha, tantas quantos forem os nomes que pudermos lhes dar.

domingo, 27 de novembro de 2011

O doce, a receita do doce e a TV

Quem já viu um desses programas de receitas da tevê, sabe como da enorme atração que eles exercem. E, embora em decadência, numa rápida pesquisa podemos diagnosticar o sucesso dessa programação nos últimos 10 anos.

Quem não pensou em pôr fim a uma dieta, quando a boca inundada da saliva esperava dissolver aqueles confeitos maravilhosos que as apresentadoras exibiam aos nossos olhares? Difícil é encontrar quem não os almejasse nababescamente, sonhando se fartar com aqueles bolos molhados, recheados de creme e morangos frescos, cobertos do mais puro chantilly e decorados com cereais e nozes das mais crocantes.

Quando projetado de uma cadeia significada para uma cadeia significante, qualquer signo tem por objetivo causar desejo. Um signo dirige-se através da cadeia significativa objetivando liberar impulsos capazes de anexá-lo às necessidades, de tal forma que tanto o signo quanto a necessidade se realizem juntos, pelos sentidos. Ou seja, o signo quer ter sentidos, ou melhor, quer ser em nossos sentidos e, como afirma Manuel de Barros, “uma palavra quer que eu a seja”. Os signos são o elemento central do processo de comunicação, mas mais que isso, representam as possibilidades que podemos declarar. Expressam potencialidades, como diz a fenomenologia, mais do que carências, como dizem os estruturalistas. É dessa forma, revelando a possibilidade de se fazer objeto, que cada frase, cada passo declarado da receita é lançado ao mundo. Os passos da receita buscam simplesmente se realizar, passando da linguagem ao ato.

Mas, voltemos ao nosso objeto de atenção. Os bolos frumentosos, cremosos e aromáticos, nos acenam como uma bandeira do MST aos olhos de um incauto fazendeiro de Brotas pasmo com os meandros da reforma agrária. Mas, o bolo, aquele que desejamos, e que poderemos construir, já está pronto. O que a apresentadora nos propõe é apenas a transformação de produtos inócuos em manjares, delícias, quindins... Ela usa o bolo como bandeira. Os ingredientes como entes. A receita como corrente significativa. E faz a promessa de que juntos, com auxílio da cognição, resultarão na mais divina iguaria!

Se você descrê da apresentadora e não vê possibilidade de elementos inócuos se transformarem em panacéias divinas, provavelmente não se recorda da lógica difusa ou da idéia de cotidianidade presente no existencialismo. Na lógica difusa, dois ou mais valores de verdade em uma conjunção podem não resultar em um agregado verdadeiro. Quem não sabe a receita, por certo descrê da mistura de farinha, creme de leite, manteiga, ovos e açúcar, na confecção de uma delícia. Mas, aos olhos treinados, aquilo que se define como ingredientes, já é o bolo que logo será. Uma cognição abre uma nova forma de ser no mundo, transforma o despercebido em coisa, e opera essa coisa que passou a ser. Assim como a receita pode fazer da farinha um bolo, a cognição pode ampliar as possibilidades do ser no cotidiano.

Voltemos à fórmula e sua técnica, que aqui é um delicioso bolo. O modo de fazer do bolo, a receita, é uma técnica. Os gregos não possuíam uma palavra para expressar a arte e uma outra para as habilidades manuais; para eles eram ambas a mesma coisa. Isso implica que para os gregos, arte e artesanato, Van Gogh e Ofélia, poderiam freqüentar as mesmas salas nos museus e nas cozinhas, pois o technica é, em sua execução e em suas possibilidades, definição de uma parcela do mundo em um objeto. Technica, pode assim, nos ajudar a transformar o modo de ser do mundo.

Basicamente, a aquisição da technica se dá por meio de um estranhamento no modo de lidar com os ingredientes e no resultado desse lidar. A primeira forma de estranhamento promove a cognição. Com ela, somos capazes de descobrir uma nova operação para um conjunto de ingredientes, fazendo-os significativos e operacionais. Em resumo, aprendemos e fazemos uso. Cristalizamos. A outra face da technica é mais complexa e envolve a poética. Com a poética, temos um estranhamento tal que, mesmo tomando conhecimento dos elementos envolvidos no processo, ainda assim, não somos capazes de operá-los. Não os temos num modo sistêmico-operacional que possa ser reproduzido. Assim, mesmo ao contarmos com elementos iguais e com uma mesma cadeia significativa, não chegamos a reproduzir os sentidos da obra primeira. A poética só nos é sensível e, embora as sensações possam ser apreendidas, há algo na poética que não é, mas que permanece ali.

O nosso bolo possui um mundo de possibilidades e a cada possibilidade uma conexão estrutural, de tal modo que (dirão os semióticos) o bolo deste texto é um signo que remete à possibilidade de um outro bolo na mente do leitor, e refere-se a terceiro bolo visto pelo espectador, que se referencia em um quarto bolo que a tevê exibe e que também é um símbolo em uma sucessão simbólica contínua. Então, afinal, o que é que temos? No lugar, nada. O bolo não é apenas o bolo e por isso ele nos sinaliza. Ele ocupa seu lugar, surge através de nossos sentidos em intuições duráveis e consegue, em meio às intuições que governam o nosso dia-a-dia, ser. O bolo é, e nós com ele, somos, não por uma determinação cartesiana, mas pelo simples fato de que quando organizado em nossa mente, ele é. No entanto, o bolo não é simplesmente dado, não surge ao acaso. Esse ser do bolo, resulta de uma técnica aplicada a ingredientes em uma corrente simbólica contínua, fruto de outras aplicações técnicas.

Porém, voltemos ao bolo. O bolo deve se materializar. Deve tornar-se real. O bolo que a apresentadora exibe é um signo e está ali em busca de desejos. Ele sinaliza ao espectador, o faz babar, promete realizações, impõe-se como potência, faz com que quem o vê queira sê-lo. Seu objetivo, enquanto símbolo, é deixar a cadeia discursiva, do logos, para ganhar a realidade. E a mensagem do bolo, do confeito, do chantilly com morango, do creme frumentoso e gelado, é que todos eles estão para serem devorados. O bolo quer ser e acena ao desejo como uma realização.

Mas, o bolo da tevê, aquele que deixa nossa boca cheia d’água, como ele é? Ele, o bolo, é na forma de um poder-ser dos ingredientes que a técnica do apresentador ou do confeiteiro abriram aos nossos olhos. Mas, por outro lado, de nada adiantaria a receita do bolo, se o bolo não ocupasse, nos olhos do espectador, um lugar primeiro, o lugar do vigor de ter sido. A potencialidade que a cognição pode abrir, com a receita de bolo, deverá ter sido, para então poder ser. É, baseado na simplificação do modo existencialista de ver o mundo, que a produção de um programa culinário tem sempre o bolo da receita já pronto. Preparado, o bolo projeta nos ingredientes a abertura para que a receita possa organizá-los em um bolo a serpreparado. Então, como funciona a cognição na receita de bolo?

A primeira regra é a de que o espectador deve ter de antemão o resultado da experiência do aprendizado proposto. No mundo sistêmico, não há possibilidades que não sejam abertas por um modo de ser que já não tenha sido. Ou seja, para vermos a possibilidade de fazer da farinha, açúcar, manteiga e ovos, um bolo, é preciso que tenhamos um vigor de ter sido, ou uma memória do bolo que desejamos e projetamos no futuro. (A complexidade cabe aqui à temporalidade, que no modo existencial funciona como relações entre passado e futuro, resultando no presente, e não linearmente em passado, presente e futuro. É preciso também ressaltar que a farinha não tem por metafísica o bolo, é a cognição que dá a ela, em mim, o sentido de tornar-se bolo).

Tendo os ingredientes organizados como potencialidade do bolo, a nova etapa consiste em aplicar a technica que irá operacionalizar a transformação. É preciso executar a receita. A cognição se dará quando o espectador, tomando a técnica transmitida na corrente simbólica que é o programa televisivo e os ingredientes da receita, torná-la real. A cognição de um programa de receitas de bolos na tevê se completa quando o espectador prepara o bolo, tal qual o que vê na tevê, mas não o da tevê. Se for capaz de entender isso, então também poderá melhorá-lo, criar novos sabores, formas, recheio, conteúdos, coberturas, caldas... Poderá fazer da cognição a technica e dessa, a poética de Uma Festa de Babete.

Mas, no fundo, da mesma forma que lidamos com uma receita de bolo, podemos lidar com a educação na tevê. O veículo, que ensina manjares, bolos e quitutes, pode se voltar e ensinar matemáticas, filosofias e ciências. É só mudar os ingredientes e os resultados surgirão em meio aos fluxos comunicacionais.

* Márcio Antônio Rezende é Jornalista, editor de informática, e especialista em Estética pela UNIBH (FAFI). É aluno ouvinte do programa de pós-graduação em Ciências da Comunicação da ECA/USP.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O que eu aprendi sobre roteiros de jogos

Minha primeira impressão é a de que estou navegando em uma nau sem bússola. Daí só resta procurar orientação nas estrelas, ou seja, tenho de buscar referências em outros sistemas e por isso algumas regras de roteiro para cinema e TV são bastante uteis, até porque você pode querer alguns filmetes que detalhem informações sobre as personagens ou fases do jogo.
Mas o roteiro de um jogo é bem mais complexo e exige a mente aberta para a interatividade, bem como ter sempre um olhar para o design gráfico, design de áudio, design de software. Assim, ao pensar um personagem é preciso imaginar a quais suas representações gráficas (deslocando-se para N, Ne, E, Se, S, So, O, No ou lutando), quais seus sons típicos (andando, marchando, morrendo) e daí criar a programação para cada capacidade do personagem.
Meu desafio nesse momento é criar um jogo falando da evolução do conceito de Moeda através da história. A primeira parte tem início na idade média e estou criando um jogo de estratégia educacional e social. À medida em que desenvolvo esse roteiro e aprendo as necessidades para criar um game vou passando por aqui.
É isso aí galera